sábado, 24 de abril de 2010

DELÍRIO (Poeta: Olavo Bilac)

Nua, mas para o amor não cabe o pejo
Na minha a sua boca eu comprimia.
E, em frêmitos carnais, ela dizia:
– Mais abaixo, meu bem, quero o teu beijo!

Na inconsciência bruta do meu desejo
Fremente, a minha boca obedecia,
E os seus seios, tão rígidos mordia,
Fazendo-a arrepiar em doce arpejo.

Em suspiros de gozos infinitos
Disse-me ela, ainda quase em grito:
– Mais abaixo, meu bem! – num frenesi.

No seu ventre pousei a minha boca,
– Mais abaixo, meu bem! – disse ela, louca,
Moralistas, perdoai! Obedeci…

domingo, 1 de novembro de 2009

Cantoria na casa de João Canuto

Esse tal de João Canuto
É um sujeito lanzudo...
Encontrei a filha dele
Tomando no cabeludo
E a mulher ali fora
Fudendo com roupa e tudo.

Na casa desse chifrudo
Quem canta é mesmo caipora...
A filha fode lá dentro
A mulher fode lá fora...
- Uma chora pra foder
E a outra fodendo chora.

sexta-feira, 24 de julho de 2009

MINHA MALETA ERA UM SACO, MEU CADEADO ERA UM NÓ

(Wellington Vicente)

Quando saí do Sertão
Há muito tempo passado
Mamãe me deu como agrado
Um saco de algodão
Cheio de recordação
Do meu velho Cabrobó
A bênção da minha vó
Desviou-me do buraco
Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

Trouxe meu velho pandeiro,
Uma peixeira, um anel,
Um folheto de Cordel,
Patuá de benzedeira,
O meu pião, a ponteira,
A carrapeta, o bozó,
Cachaça no mororó
Pra quando estivesse fraco
Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

Trouxe a pedra de amolar,
A foto de Padim Ciço,
Reza de quebrar feitiço
(No caso de precisar).
Ainda pude lembrar
Dum disco de Matricó
Um bilhete do xodó
Tinha também no bisaco
Minha maleta era um saco
Meu cadeado era um nó.

* * *

NA PORTA DO CU DO DONO

(De Maciel Melo e Zé Marcolino)

Essa rola antigamente
Vivia caçando briga,
Furando pé de barriga
Doidinha pra fazer gente,
Mas hoje tá diferente,
No mais profundo abandono,
Dormindo um eterno sono,
Não quer mais saber de nada,
Com a cabeça encostada
Na porta do cu do dono.

Já fez muita estripulia,
Cavou buraco de cu,
Mais parecia um tatu,
Fuçava tudo o que via.
Reinava na putaria,
O priquito era seu trono,
Trepava sem sentir sono
E sem precisar de escada,
Mas hoje vive enfadada
Na porta do cu do dono.

Nunca mais desvirginou
Uma mata vaginosa,
Há muito tempo não goza,
Noite de gala passou.
Vive cheia de pudor,
Sonolenta e sem abono,
Faz da ceroula um quimono,
E da cueca uma estufa,
Vive hoje a cheirar bufa
Na porta do cu do dono.

* * *

quarta-feira, 22 de julho de 2009

TUDO É MERDA...

Damasceno Bezerra

O mundo é simplesmente merda pura

E a própria vida é merda engarrafada;

Em tudo vive a merda derramada,

Quer seja misturada ou sem mistura.


É merda o mal e o bem merda em tintura,

A glória é merda apenas e mais nada.

A honra é merda e merda bem cagada;

É merda o amor, é merda a formosura.


É merda e merda rala a inteligência!

De merda viva é feita a consciência,

É merda o coração, merda o saber.


Feita de merda é toda a humanidade,

E tanta merda a pobre terra invade,

Que um soneto de merda eu quis fazer